Técnica
experimental da USP livra diabéticos das injeções de insulina: Tratamento
testado no HC de Ribeirão Preto faz com que 21 dos 25 voluntários, todos
portadores do tipo 1 da doença, deixem de receber as aplicações; o
procedimento, estudado ao longo de nove anos, é baseado no autotransplante de
células-tronco saudáveis
Uma
terapia testada durante nove anos por pesquisadores do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto
conseguiu livrar de aplicações de insulina 21 dos 25 pacientes com diabete do
tipo 1 que participaram do estudo. Um deles está há oito anos sem tomar as
injeções.
Os
médicos utilizaram um procedimento chamado autotransplante de células-tronco
saudáveis. A ideia é tentar construir um novo sistema imunológico para o
paciente, uma vez que a diabete do tipo 1 é autoimune, ou seja, é o próprio
sistema de defesa do corpo que passa a atacar as células do pâncreas
responsáveis pela produção de insulina.
Um dos
beneficiados pelo estudo é o jovem Humberto Flauzino Guimarães, de 22 anos,
livre das injeções de insulina há cinco anos. Ele diz que sua qualidade de vida
mudou muito desde que passou a se tratar com células-tronco. Mas as
recomendações médicas de fazer exercícios físicos regularmente e de ter uma
alimentação saudável não foram abandonadas.
O estudo
em Ribeirão Preto é conduzido pelo endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri.
Hoje, antes da abertura do Congresso Brasileiro de Endocrinologia, em Goiânia
(GO), o médico falou ao Estado sobre os avanços no tratamento. A evolução dos
pacientes, diz, é algo "notável".
Os
resultados favoráveis no tratamento têm sido destacados em publicações
especializadas, como o jornal da Associação Médica Americana. Isso porque, pela
primeira vez no mundo, os níveis do peptídeo-C, uma espécie de marcador do
funcionamento das células produtoras de insulina, aumentou nos pacientes
submetidos à terapia.
Para
Couri, as muitas dúvidas que a comunidade científica internacional levantou no
início da descoberta já não se justificam. "Hoje, temos resultados
práticos que provam que estamos no caminho certo", garante. Mas, de acordo
com o médico, ainda não é possível prever quando a tecnologia estará disponível
a todos os diabéticos. "É uma terapia de longo prazo. Estamos falando de
célula-tronco, algo ainda novo e que vem sendo discutido", explica.
Procedimento.
Na técnica aplicada por Couri, para evitar que o paciente tenha as células que
produzem insulina destruídas, são realizadas sessões de quimioterapia que
praticamente desligam o sistema imunológico do diabético. Mas, antes disso, são
retiradas células de sua medula óssea, que depois são aplicadas na corrente
sanguínea para construir um novo sistema imunológico. Esse transplante de
células-tronco do próprio paciente faz com que o pâncreas volte a funcionar e
elimina a necessidade da aplicação de insulina. Portadores do tipo 1 geralmente
se tornam dependentes de insulinoterapia por toda a vida.
O estudo
conta com os apoios do Ministério da Saúde, da Fapesp, do CNPQ e do SUS
(Sistema Único de Saúde). Couri diz ter comprovado que os pacientes hoje
produzem mais insulina do que quando iniciaram o tratamento. "Alguns deles
estão com excelente qualidade de vida, muito diferente da vida que levavam
antes", afirma. A diabete do tipo 1 atinge entre 5% e 10% da população de
diabéticos. No Brasil, a estimativa é de sete pacientes a cada 100 mil
habitantes.
PARA
ENTENDER
Doença
costuma atingir crianças
Na
diabete do tipo 1, também conhecida como diabete infanto-juvenil, uma vez que a
doença costuma se manifestar na infância ou na adolescência, a produção de
insulina pelo pâncreas é insuficiente, pois suas células são destruídas pelo
próprio corpo.
Por
isso, os pacientes necessitam de injeções diárias de insulina para manter o
nível de glicose no sangue em valores considerados normais. Há risco de vida se
as injeções não forem tomadas diariamente, em doses adequadas.
De
acordo com os médicos, algumas condições podem estar relacionadas à doença: ter
familiares próximos portadores de diabete ou apresentar excesso de peso,
pressão alta e colesterol elevado. O mesmo vale para mulheres cujos filhos
nasceram com mais de 4 quilos.
Os
sintomas mais comuns da doença são: urinar excessivamente, ter muita sede e
apetite aumentado, perder peso e sentir-se cansado, com a vista embaçada.
Infecções recorrentes, principalmente de pele, também são comuns.
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